sexta-feira, 23 de outubro de 2009

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Quem irá salvar-te de ti mesma, pequenina?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Rotineiramente

Era noite. Estava frio. O vento daquela janela aberta fazia meu nariz secar e incomodar. Voltando para casa, a visão do nada ao horizonte e aquele clube iluminado lá na frente. Carro amarelo, contador desligado por um acordo de quarenta reais e umas bobagens saindo da boca de gente bêbada. Chegando no meu destino, ou quase lá, já que a continuação da rota me obriga a parar do outro lado da avenida.
Saí do carro. Olho para um lado, olho para o outro (é claro, madrugada de Rio de Janeiro não se pode atravessar a rua sem ter certeza de que um carro não vem na contramão). Tranquilo, posso ir. Piso na rua, mas algo me impede. Ora, quem diria, chegastes ao mesmo tempo que eu! Dou um sorrisinho e vou seguir meu caminho, mas vens na minha direção. Legal, pelo menos isso você se dá o trabalho de fazer.

- Oi.
- Oi.
- Tá frio né?
- Pois é. Acho que vou ficar doente.
- Que pena...
- É...
- Bem, vou indo.
- Também.
- Tchau.
- Tchau.

Piso na rua novamente, porém sua voz me impede e me faz virar. Está olhando para mim, e viro a cabeça para o lado em questionamento. Andas até mim, e olha-me nos olhos. Esses olhos traiçoeiros, egoístas, confusos, penetrantes. Não quero vê-los, pois agora tenho nojo de sua cor. Mas você continua olhando-me, sem nem piscar. Finalmente as palavras saem da sua boca:

- Desculpa. Desculpa por fingir, por confundir, por fazer sofrer. Desculpa por ser tão idiota. Com você e comigo. Desculpa por todo esse tempo omitir e te fazer sofrer a esse ponto. Desculpa. A verdade é que... Sinto o mesmo por você.

Como assim? Você bebeu? Fumou? Não, estás normal. Então é verdade.
Finalmente! O que queria ouvir durante tanto tempo! Mas... Estranho... Não soa como imaginei. Não parece mais recíproco. Penso no que pode estar acontecendo e finalmente concluo: de fato, não é recíproco. Pelo menos não mais.

- Sinto muito. Demorou demais.

Viro-me, e piso na rua pela terceira vez. Nada me impede novamente. Sigo meu caminho pela avenida e deixo-te do outro lado. O lado onde minha dor está parada contigo e não mais sairá daí. O lado onde meu coração deu seu remendo final, minha alma desapertou e minha cabeça clareou.
Do lado de cá, a dor deu lugar ao alívio, o coração voltou a bater normalmente e a cabeça... a cabeça simplesmente voltou a formar imagens sem você.
Bem de longe, me viro. Você não pode me ver. Mas vejo que ainda está do outro lado, com a cabeça confusa e os olhos abertos. "Pensei que a tinha."
Oh darling, understand that everything ends.

Vou para casa, deito na minha cama e fecho os olhos... Boa noite.
O despertador toca, eu acordo. Que estranho, hoje é quinta-feira. Não era sábado?
Cadê a roupa que deixei em cima da cadeira? E os sapatos do lado do armário? E porque meu uniforme escolar está separado, junto com a mochila e o o bloco A3?
Calma. Pensa. Você não está maluca.
Ao pensar no que aconteceu noite passada, percebes que seu coração ainda está apertado e sua cabeça ainda formula imagens proibidas.
Foi um sonho. Um sonho!
Levanto, vou ao banheiro, lavo o rosto, me arrumo e pego a chave de casa.
Ao pisar fora da porta, volto para meus dias nublados, doloridos e sonhadores. Voltao não, pois nunca saí.
E assim segue mais um dos incontáveis dias em que tudo que desejo é ter-te ou superar-te. E tudo que alcanço é a dor rotineira...