domingo, 18 de julho de 2010

Chega uma hora da madrugada que o seu chá começa a ficar frio, seus ombros caídos e a cabeça devagar. Você começa a lembrar, repassar, reviver e inventar. Começa a chorar, a sorrir, a se apaixonar, a sofrer por águas passadas, uma vida que já foi.
Por mais miserável que o passado possa parecer, você ainda o inveja, simplesmente por ser o passado. Se fosse futuro, seria indiferente, presente, vivente. Mas não. É passado. Passou e não volta nunca mais.
Ai você começa a se desesperar. Bate a agonia, a nostalgia, as lágrimas descem como a nascente de um rio - cristalinas e puras. Depois passa. Vira passado também. Chega a hora em que a dor pausa no tempo como se houvesse alguém controlando-a por um controle remoto universal daqueles bem baratos comprados no camelô do centro do Rio.
Então Deus entra na conversa. Por que, ó, por que? Deixe o coitado fumar seus cigarros na esquina gelada em paz, ele não é causador dos seus problemas. Deixe-no, se algum dia calhar dele vir até você, que virá.
Os olhos se voltam ao relógio: são 04:08. Rondam a sala em busca de algo sem discrição, sem imagem e sem existência. Mas tudo que encontram é o velho chá frio, almofadas amassadas, o telefone que nunca tocou e um vazio. Um vazio de nada especifíco. Só o vazio mesmo.
Talvez esse vazio seja a solucão. Ou talvez eu só esteja com sono.